Um conglomerado milionário, Abu Dhabi o maior entre os sete pequeninos Estados que formam os Emirados Árabes Unidos esbanja tanta riqueza que chegou a dar uma mãozinha para Dubai, sua vizinha mais famosa, quando a recente crise econômica mundial provocou sérios transtornos aos negócios e investimentos ali despejados à época. Mais do que isso, usou o fato de contar com a sétima maior reserva de petróleo do mundo para dar vida às principais atrações de Abu Dhabi, como a construção das filiais dos museus do Louvre e do Guggenheim.
Um assombro para um lugar que, até a segunda metade do século 20, não passava de um cantinho desértico e quase esquecido no Oriente Médio, onde um punhado de beduínos vivia em condições simplórias. Foi aí que o ouro negro jorrou e o xeque Zayed bin Sultan Al Nahyan (1918-2004), com os cofres de seu suntuoso palácio abarrotados por petrodólares, tino para os negócios e muita disciplina e ambição para arquitetar o futuro do emirado, transformou o lugar numa cidade-Estado organizada, efervescente e de arquitetura para lá de arrojada. Como se fossem pedidos realizados a um gênio da lâmpada, brotaram por lá, numa velocidade avassaladora, avenidas, arranha-céus high-tech, hotéis de grifes internacionais, shoppings e, para que todo mundo chegue lá com conforto e sem ter de fazer escalas intermináveis, uma das melhores companhias aéreas do planeta, a Etihad, que inclusive opera voos diretos entre Abu Dhabi e São Paulo.
SAFARI NO DESERTO
Embora reúna menos atrativos turísticos do que Dubai, Abu Dhabi merece bem mais do que um bate e volta a partir da vizinha. É um lugar para passar entre três e, quem sabe, 1.001 noites, sobretudo se você tem dinheiro para gastar. Justamente por não receber, ainda, a porção de visitantes que chega a Dubai, o emirado consegue oferecer passeios em que os participantes desfrutam de um clima mais exclusivo, como muitas vezes ocorre no tradicional safári pelo deserto.
A bordo de jipes Land Cruisers 4×4, você é conduzido pelas areias em meio a manobras radicais e altas arrancadas. No fim do dia, após a visita a uma fazenda de dromedários, um jantar é servido num acampamento beduíno, com direito a se fartar com pratos típicos, assistir a uma apresentação de dança do ventre, fumar narguilé e fazer tatuagens de hena. A diferença é que, em Abu Dhabi, poucas agências oferecem o serviço, o que o torna mais privativo. Com sorte, só haverá o seu carro e outro de apoio cortando as dunas. Para esse passeio consulte as operadoras locais.
VISITE A SUNTUOSA MESQUITA
Visite a suntuoso MesquitaSeja num tour vapt-vupt ou num roteiro mais detalhado, nenhum guia deixa de fora uma das principais atrações de Abu Dhabi, a Grande Mesquita Sheikh Zayed, literalmente uma das maiores e mais imponentes do mundo. O templo tem capacidade para 40 mil pessoas e é aberto à visitação de não muçulmanos, que devem apenas respeitar regras como evitar roupas justas e ter pernas, ombros, braços e cabeça cobertos, no caso das mulheres, e o uso de calça, por parte dos homens. Construída entre 1996 e 2007, a mesquita é adornada com mosaicos de mármore e detalhes de ouro, que representam trechos do Alcorão e enfeitam parte das 1.048 colunas, 82 domos e quatro minaretes de quase 110 metros de altura, os quais, à noite, ao serem iluminados, ficam ainda mais vistosos.
Depois de passar pelos jardins e o enorme pátio externo, é preciso tirar os sapatos para entrar no salão principal da mesquita e ganhar a primeira bênção: o ar-condicionado, que traz um enorme alívio diante do forte calor do lado de fora do templo – no verão (junho a setembro), a temperatura beira insuportáveis 50 0C, enquanto no inverno (dezembro a março) ela gira em torno de 20 0C.
Na área de orações, de pé sobre o maior tapete confeccionado numa única peça do mundo, produzido por 1.200 artesãs iranianas ao longo de um ano, é possível admirar um painel que expõe as 99 variações do nome de Alá, relógios de ouro e madrepérola com o horário das preces obrigatórias e um lustre com 10 metros de diâmetro e 12 toneladas coberto com ouro, cristais Swarovski e vidros confeccionados em Murano (Itália).
Dizem que o xeque Zayed investiu US$ 1,5 bilhão na construção da suntuosa mesquita. Porém, ele não teve tempo de vê-la finalizada em todo o seu esplendor, pois morreu em 2004, cerca de dois anos antes da inauguração. Mas o governante é homenageado com toda a pompa e circunstância ali: seu corpo foi sepultado em uma câmara nos jardins do templo, diante da qual trechos do Alcorão são recitados 24 horas por dia.
Idealizador dos projetos que voltaram os olhos do mundo para Abu Dhabi, não é para menos que o falecido xeque Zayed seja praticamente venerado por lá, tal qual hoje são seus dois filhos mais velhos, Khalifa bin Zayed Al Nahyan (atual mandatário dos Emirados Árabes e emir de Abu Dhabi) e o príncipe Muhammed. Fotos dos três líderes aparecem em muitos hotéis e edifícios da cidade, mesmo nos mais modernos, erguidos nas redondezas de Corniche, onde fica a praia pública. Ali, há um agradável calçadão, um dos únicos trechos onde dá para bater perna na cidade. Não por falta de segurança, que fique claro, já que a criminalidade é quase zero, mas porque Abu Dhabi foi projetada para o uso de carros, com avenidas largas e quarteirões extensos. Também, com o litro da gasolina custando o equivalente a R$ 1,50, o incentivo é enorme para todo mundo sair dirigindo por aí.
Na região central, há diversos arranha-céus com design futurista, como os cinco que compõem as Etihad Towers. Um deles abriga o luxuoso hotel Jumeirah, palco do Ray’s Bar, no 620 andar, de onde se tem uma bela vista da cidade avançando sobre o Golfo Pérsico. Não hóspedes podem entrar numa boa e mandar ver nas fotos. Outro espigão que chama a atenção é o Capital GateTower, que, com uma inclinação de 18 graus, bate a icônica Torre de Pisa e é considerado o prédio mais “torto” do mundo – e foi feito assim de propósito.
No entanto, o que mais se destaca na vizinhança é um edifício de ares clássicos: o Emirates Palace, hotel que só não tem mais do que cinco estrelas porque as leis de Abu Dhabi não permitem. Construído para ser o símbolo do país – tal qual o Burj Al Arab, aquele edifício que lembra um barco a vela em Dubai –, o empreendimento tem ouro no teto, nas louças com as quais se serve o chá da tarde no maior estilo britânico e, acredite, até mesmo em um caixa eletrônico. É o único do tipo no mundo: você insere o cartão de crédito e, na hora, saca reluzentes barras douradas. Ou pelo menos sonha com isso.
UMA PASSADINHA NOS SOUKS
Ao contrário de outros destinos do Oriente Médio, o emirado deu uma cara ocidental e superarrumada a seus souks, como são chamadas as áreas comerciais. Mesmo os que vendem temperos e antiguidades, como o Central Souk, têm ares modernos e ambientes que lembram os de um shopping. O mais luxuoso deles é o Souk Qaryat Al Beri, parte do complexo do belíssimo hotel Shangri-La. Ostentando ares venezianos, o mercado é o melhor lugar para comprar perfumes, roupas e pashminas.
À noite, é curioso observar ali o vaivém das nativas cobertas por burcas e que, ao andar, revelam sapatos de salto altíssimo, boa parte deles autênticos Christian Louboutin, identificados pelo inconfundível solado vermelho.Elas transitam sem maiores problemas ao lado de gringos e gringas de terno, saia ou calça jeans, deixando claro que Abu Dhabi tem regras rígidas sim, senhor, porém também se mostra aberta aos costumes estrangeiros. Não à toa, é um dos lugares mais pacíficos do conturbado Oriente Médio, onde a cultura ocidental é aceita sem grandes impasses, sobretudo nos hotéis.
Ao sair do Souk Qaryat Al Beri em direção ao Shangri-La, por exemplo, você verá árabes, norte–americanos, europeus, chineses e brasileiros em plena interação, incluindo mulheres na praia de biquíni e turistas degustando bebidas alcoólicas – cujo consumo está liberado apenas nas áreas pertencentes aos hotéis – enquanto admiram a Grande Mesquita Sheikh Zayed, que se impõe na paisagem.
Agora, se o seu negócio é mesmo velocidade, invista na experiência de pilotar um carro da Fórmula 3000 ou os potentes modelos Aston Martin GT4 4.7 V8 no Circuito Yas Marina, um autódromo lindíssimo e arrojado e um dos símbolos de Abu Dhabi, que conquistou seu lugar no calendário da Fórmula 1. A experiência, que dura cerca de 30 minutos, não é barata: custa cerca de R$ 1.400, mas, adivinhe?, é sensacional e vale cada centavo.
E, se for para ter um dia de xeque para valer, aproveite para fechá-lo com um jantar no Cipriani, filial do famoso restaurante de Veneza. Reserve uma mesa do lado de fora para apreciar a iluminação do Yas Viceroy, único hotel do mundo colado a uma pista de corrida e um dos mais sofisticados do emirado. Além dos clássicos italianos, deliciosos pratos japoneses integram o menu. Mas prepare-se: um casal não gasta menos do que R$ 1 mil por lá numa refeição completa, com vinho e sobremesa.